Celebrado neste 21 de janeiro, o Dia Nacional de
Combate à Intolerância Religiosa só
viria a ser instituído oficialmente pela Lei
nº 11.635, de 27/ 12/ 2007, data que lembra a morte da Iyalorixá (Sacerdotisa)
Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum/BA, vítima de intolerância por ser
praticante de religião de matriz africana, acusada de charlatanismo.
Ano a ano, a
liberdade de cada um em relação às suas crenças e práticas religiosas tardou a
ser levada em conta no Brasil e no mundo... Em Fernando de Noronha não seria diferente...
No tempo em que o arquipélago era desabitado e ocorreram invasões, sabe-se que
os holandeses viveram em Fernando de Noronha, entre 1629 e 1654, e
mantiveram uma Congregação Cristã
Reformada Calvinista, com freqüentes visitas de pastores enviados pelo
governo holandês de Pernambuco. Mas as sucessivas ocupações do Arquipélago por
Pernambuco – como Presídio Comum de Pernambuco, Presídio Político Federal, base
avançada militar na II Guerra Mundial e como Território Federal militar, exigiram
sempre de todos as práticas católicas,
sendo obrigatória a presença nas Missas, fossem elas na Igreja dos Remédios,
nas quatro capelas existentes e, somente para os presos, na Igreja de N. Sra. do Rosário dos Sentenciados
(que foi totalmente destruída, só visível em pintura de 1870) além daquela
realizada ao ar livre, na Praia do Porto de Sto. Antônio, com todos ajoelhados
na areia e somente o celebrante de pé.
Historicamente, a
1ª Missa celebrada no solo noronhense foi em 1612, pelo frade capuchinho
francês, Frei Claude d´Abeville, companheiro do conquistador do
Maranhão, Daniel da la Touche que, parando na
ilha, para descanso, improvisou um local para essa celebração. Ocupada de forma
definitiva em 1737, foi católica a sua definição religiosa, somente alterada em
1957, quando evangélicos
de diferentes denominações que faziam parte do grupo pescadores enviados do
Recife para a ilha, numa campanha de pesca, uniram-se para reivindicar o
direito ao culto, surgindo a prática evangélica juntos, sem separação por denominação.
Aos poucos, buscando parcerias com igrejas instaladas no continente e assumindo
sua identificação, os evangélicos formaram suas comunidades, existindo hoje: a Igreja
Batista, por muito tempo associada
à Igreja de Dois Unidos, no Recife/PE; a Igreja da Assembléia de Deus, associada
à Igreja de Abreu e Lima/PE; a Congregação Cristã Reformada do Brasil, a
Igreja Presbiteriana, a Igreja
Adventista e a Igreja Episcopal...
E a mesma liberdade que
permitiu o culto aos evangélicos também acolheu grupos espiritualistas, como umbandistas
e kardecistas, estes
com encontros regulares de fundamentação da doutrina.
Por isso tudo, em
Fernando de Noronha, temos o direito de celebrar o dia de hoje, pela liberdade
que permeia as relações humanas no arquipélago distante, tendo a tranqüilidade
de saber que a intolerância religiosa
(como o racismo) está catalogada na norma criminal que obriga que as
devidas punições sejam tomadas, quando houver denúncias, pois esse esses são crimes
inafiançáveis, prescrito na Constituição Brasileira.
A palavra certa
para a postura de cada um é a tolerância.
Em qualquer lugar do mundo, todos devem ser aceitos com respeito, seja qual for
a sua religião, a sua crença, a sua experiência de vida.