segunda-feira, 21 de agosto de 2017

GENARO PINHEIRO: O MENINO DE NORONHA SE ENCANTOU !


Anos atrás ele leu num  jornal que havia uma pesquisadora no Recife que estava  em busca de pessoas que tivessem - por qualquer razão -–nascido ou vivido em Fernando de Noronha. Animou-se logo. Afinal, ele morara na ilha desde muito pequeno, acompanhando o pai, secretário do Presídio Comum que existia ali. Crescera ali. Amava todas as coisas que experimentara: as praias da ilha, as encenações singelas que sua mãe organizava, os muitos prisioneiros que se tornavam próximos da sua família, prestando serviços simples; até mesmo o rigoroso controle exercido pelo seu pai, para que a ordem não fosse desandar... E, sobretudo, guardou os registros fotográficos feitos pelo pai, Manoel Pinheiro de Menezes, a serviço de uma prisão que foi sendo humanizada“ pela sabedoria desse pai que idolatrava. Não teve dúvidas. Marcou o encontro e lá se foi à minha procura, com esse precioso acervo junto ao coração, para a entrevista que duraria horas...


E eu uma pesquisadora quase no começo da sua busca, para resgatar a história de Fernando de Noronha, experimentei o encontro com uma das pessoas mais interessantes que haveria de conhecer na vida: GENARO PINHEIRO, o maravilhoso informante que me aparecia abraçado a pastas e pastas, pedaços de uma vida inteira de dedicação e saudade!



Antes de tudo, reconheci nele um guardião do tesouro de imagens dos seus tempos de menino e de recordações deliciosas, que iriam levar a compor um belo trabalho que fez:ILHA MÁGICA“, hoje integrado ao acervo documental que estava sendo iniciado.



Das primeiras conversas nasceu o seu desejo de voltar por uns tempos ao arquipélago, viver a experiências do plantio de frutas e de conviver com a comunidade ilhéu que havia àquele tempo...



As imagens que doou ao “Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha“ que se havia iniciado na década de 1970, foram importantíssimas para desenvolvimento de todos os planos de descobertas que se seguiram e que chegam ao tempo de agora com mais de seis mil diferentes registros fotográficos, mostrando como era a ilha no passado até o reconhecimento de hoje das medidas de proteção e restauro possíveis, pelos detalhes mostrados de um patrimônio histórico que não mereceu – por muito tempo – as atenções daqueles que eram responsáveis por ele.



Genaro Pinheiro, sonhador morador de uma Noronha encantada no seu coração, que mereceu ser poetizado pela esposa, Rejane, no poema que está no meu livro – “Fernando de Noronha – Cinco Séculos de História”, no Capitulo 10 (que reúne “poemas e canções” sobre o Arquipélago), no qual diz, ao final:

“O menino e o pai eternizados,

Destinados prisioneiros na lembrança,

E viajantes da cósmica memória,

Passageiros dos tempos.

Passageiros dos ventos,

Passageiros da Ilha.”



Pois esse homem encantador, que abriu mão das mais belas imagens do seu passado para enriquecer ainda mais um acervo que mostra ao mundo aquela Noronha do começo do século XX, partiu... Foi para sua derradeira viagem neste agosto, deixando a nós todos – que o conhecemos um dia – saudosos e reconhecidos ao seu valor tão grande, para a história insular.


Segue em paz, Genaro Pinheiro! Obrigado por tudo!


 
OBS: Imagem do menino Genaro Pinheiro, em 1927, com seu pai, junto aos tripulantes da hidroavião Jahu,  
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