Anos atrás ele leu num jornal que
havia uma pesquisadora no Recife que estava em busca de pessoas que tivessem - por
qualquer razão -nascido ou vivido em Fernando de Noronha.
Animou-se logo. Afinal, ele morara na ilha desde muito pequeno, acompanhando o
pai, secretário do Presídio Comum que existia ali. Crescera ali. Amava todas as
coisas que experimentara: as praias da ilha, as encenações singelas que sua mãe
organizava, os muitos prisioneiros que se tornavam próximos da sua família,
prestando serviços simples; até mesmo o rigoroso controle exercido pelo seu
pai, para que a ordem não fosse desandar... E, sobretudo, guardou os registros fotográficos
feitos pelo pai, Manoel Pinheiro de Menezes, a serviço de uma prisão que foi
sendo humanizada pela sabedoria desse
pai que idolatrava. Não teve dúvidas. Marcou o encontro e lá se foi à minha
procura, com esse precioso acervo junto ao coração, para a entrevista que
duraria horas...
E eu uma pesquisadora quase no começo da sua busca,
para resgatar a história de Fernando de Noronha, experimentei o encontro com
uma das pessoas mais interessantes que haveria de conhecer na vida: GENARO PINHEIRO, o maravilhoso
informante que me aparecia abraçado a pastas e pastas, pedaços de uma vida
inteira de dedicação e saudade!
Antes de tudo, reconheci nele um guardião do
tesouro de imagens dos seus tempos de menino e de recordações deliciosas, que
iriam levar a compor um belo trabalho que fez: “ILHA MÁGICA“, hoje
integrado ao acervo documental que estava sendo iniciado.
Das primeiras conversas nasceu o seu desejo de
voltar por uns tempos ao arquipélago, viver a experiências do plantio de frutas
e de conviver com a comunidade ilhéu que havia àquele tempo...
As imagens que doou ao “Programa de Resgate Documental
sobre Fernando de Noronha“ que se havia iniciado na década de 1970, foram
importantíssimas para desenvolvimento de todos os planos de descobertas que se
seguiram e que chegam ao tempo de agora com mais de seis mil diferentes
registros fotográficos, mostrando como era a ilha no passado até o
reconhecimento de hoje das medidas de proteção e restauro possíveis, pelos detalhes
mostrados de um patrimônio histórico que não mereceu – por muito tempo – as
atenções daqueles que eram responsáveis por ele.
Genaro
Pinheiro, sonhador morador de uma Noronha encantada no seu coração, que mereceu
ser poetizado pela esposa, Rejane,
no poema que está no meu livro – “Fernando
de Noronha – Cinco Séculos de História”, no Capitulo 10 (que reúne “poemas
e canções” sobre o Arquipélago), no qual diz, ao final:
“O menino e o pai eternizados,
Destinados prisioneiros na lembrança,
E viajantes da cósmica memória,
Passageiros dos tempos.
Passageiros dos ventos,
Passageiros da Ilha.”
Pois esse homem encantador, que abriu mão das mais
belas imagens do seu passado para enriquecer ainda mais um acervo que mostra ao
mundo aquela Noronha do começo do século XX, partiu... Foi para sua derradeira
viagem neste agosto, deixando a nós todos – que o conhecemos um dia – saudosos
e reconhecidos ao seu valor tão grande, para a história insular.
Segue em paz, Genaro Pinheiro! Obrigado por tudo!
OBS: Imagem do menino Genaro Pinheiro, em 1927, com seu pai, junto aos tripulantes da hidroavião Jahu,
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