Por muitos
anos estive ao lado de um Profeta... Voluntariamente, aceitei e cumpri qualquer
das tarefas que me fossem solicitadas, feliz pela convivência que se
estabelecia, pelos amigos que igualmente queriam estar perto daquele homem
iluminado...
Eu era
aquela que cantarolava nos encontros em torno do cafezinho no terraço da Igreja
das Fronteiras, no meio das tardes; que se dispunha a cumprir as doces tarefas
nos tempos que antecediam os natais; que acolhia moradores dos engenhos
instalados por ele, para pequenas e preciosas capacitações para o dia-a-dia de
cada um; que conduzia cantos em tantas celebrações... Dias de alegrias, de
partilhas, de enriquecimento interior!
Parodiando o
poeta Bandeira, “nunca pensei que isso um dia se acabaria...” Mas chegou o
momento de vê-lo partir, naquela noite de agosto, de segui-lo - silenciosa e
triste - na longa caminhada da Igreja das Fronteiras (no Recife) até a
Se-Catedral (em Olinda); de voltar ali para cantar para ele, no 7º dia da sua
volta à Casa do Pai.
Este homem marcou o seu tempo e os tempos que haveriam de vir, dentro e
fora da Igreja Católica, com a força da sua voz, dos seus ideais e das ações
pioneiras que deflagrou. E deixou-se ficar para além da sua época, pelo
dinamismo que foi sua vida e pela humildade e despojamento em que viveu.
Aclamado por poderosos e por gente do povo, foi a voz daqueles que não podiam
falar; a defesa dos perseguidos; o exemplo para os que queriam viver o
Evangelho; o modelo de santidade e de fecundo viver. Tudo isso ele continua a
ser, na nossa lembrança e nos escritos que deixou.
Já se passou
muito tempo depois que ele se foi... Unidos, esses filhos que ele acolheu
continuaram a relembrá-lo em cada oportunidade. E, juntos, apregoaram seu
profetismo nos muitos momentos da comemoração dos cem anos do seu nascimento,
em 2009. O ideário helderiano
enraizou-se em nós, como uma marca, como uma chama acesa no coração. E a
esperança de ver reconhecida – pela Igreja - a sua santidade, alimenta e
revigora a luta que está longe de ser encerrada.
Hoje é Carnaval. E foi no dia 7 de fevereiro de 1909 – um dia de
Carnaval também - que esse homem tão especial nasceu. O primeiro Helder do
século XX talvez, semelhante aos numeráveis "Helders" que foram sendo assim batizados. Um Helder que, na sua origem, significa LUZ, CLARIDADE... E
poucos foram, na vida, luz para tantos e claridade
para o mundo!
Foto 01 - Dom Helder e a pomba
Foto 02 - Dom Helder e o Papa João Paulo II
Foto 03 - Dom Helder e eu, em Fernando de Noronha