terça-feira, 28 de abril de 2015

A CHEGADA DO JAHU A FERNANDO DE NORONHA


Final do mês de abril de 1927. Como um grande pássaro, chega a Fernando de Noronha o hidroavião Jahu, pilotado por João de Barros e seus companheiros  João Negrão (copiloto), Newton Braga (navegador) e Vasco Cinquinin (mecânico). No mar revolto do arquipélago, realizava-se a primeira parte do sonho do piloto brasileiro, cumprindo ali a etapa pioneira de vôo.

O Jahu, um hidroaviãoda marca Savoia-Marchetti S.55 o último de seu modelo no mundo - fazia a terceira travessia aérea do Atlântico Sul - a primeira da história sem escalas -, em 1927, depois de Gago Coutinho e  Sacadura Cabral, em 1922 e Ramon Franco e uma equipe espanhola, no hidroavião Dornier DO J Wahl "Plus Ultra", em 1926.

A travessia aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil, havia inflamado a imaginação do aviador paulista. E ele resolveu enfrentar um "raid" transoceânico perigoso, que o faria famoso. naquele hidroavião que tinha sido preparado na Itália, próximo à Gênova e batizado de "Jahu" em homenagem à cidade brasileira Jahu, onde o piloto nascera. Com uma eficiente tripulação a acompanhá-lo decolou dia 13 de outubro de 1926, rumo a Gibraltar, para a 1ª etapa do voo. E seguiu adiante, enfrentando as dificuldades, parando para os necessários consertos que se sucederiam.

Após os últimos preparativos antes de cruzar o Atlântico Sul, na madrugada de 28 de Abril de 1927, o Jahu decolou rumo ao Brasil. Numa altitude de 250 metros e a velocidade recorde de 190 km/h, voou durante 12 horas ininterruptas, sem escalas, pousando na enseada Norte da ilha de Fernando de Noronha sob o sol poente, com problemas na hélice traseira e com 250 kg de combustível ainda a bordo. Era o 1º pouso, num mar desconhecido e agitado. Dali em diante, todo o país comemoraria e acolhendo festivamente os aviadores nas demais etapas do percurso: Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, onde o raid foi concluído em agosto daquele ano. E o arquipélago pernambucano tinha sido o primeiro a acolhê-los. O Jahu nunca mais voaria. A crise econômica mundial e a Revolução de 1930 obrigaram João de Barros a abandonar seu sonho, vindo a morrer em 1947, vinte aos depois do sucesso do seu empreendimento.

Por muitos anos o Jahu esteve em exposição até 1950, no Museu do Ipiranga. Depois, transferido para o Museu da Aeronáutica de São Paulo, com o patrocínio da Fundação Santos Dumont, ficou quarenta anos, período em foi visitado por nós, que – percebendo estar incompleto o percurso feito por ele em 1927, pela ausência de qualquer registro visual sobre a pioneira amerisagem no arquipélago, foi ele doado doado por nós à Administração do Museu,  em nome do Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha, a foto do hidroavião fundeado na mar noronhense, tendo o Morro do Pico como testemunha, foto essa do acervo original da família Pinheiro de Menezes, sendo o comandante do presídio, na época, o Sr. Manuel Pinheiro de Menezes Filho e doada pelo filho dele, Genaro, testemunha ocular da famosa amerisagem.  
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Desativado o Museu de Aeronáutica no ano 2000, o Jahu foi levado para o Campo de Marte e mereceu receber uma restauração completa, com diversos parceiros como financiadores (inclusive a Aeronáutica Militar Italiana, que ainda espera construir uma réplica dele para seu Museu Histórico). Concluídos os trabalhos em 2007, pretendiam que ele ficasse exposto a céu aberto na cidade de Jaú. Problemas legais fizeram com que uma réplica dele ficasse na cidade que inspirou seu nome, estando o hidroavião hoje cedido pela Fundação Santos Dumont – por comodato – ao Museu da TAM (Museu Asas de Um Sonho), em São Carlos (SP), onde permanece exposto.

Para Fernando de Noronha fica o orgulho de ter, em sua cronologia, esse importante registro: o de ter recebido, pioneiramente no Brasil, o hidroavião Jahú, primeiro avião a cruzar o Atlântico pilotado por um brasileiro, em 1927, e único “sobrevivente” mundial entre as 170 unidades produzidas na Itália durante a década de 1920.
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Fotos
1. O Jahu amerissado no Porto de Sto. Antônio
2. Tripulantes do Jahu na Fortaleza dos Remédios, acompanhados do diretor do Presídio e filhos pequenos.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

PELÓPIDAS SILVEIRA E A PESCA EM FERNANDO DE NORONHA




Desde a ocupação definitiva de Fernando de Noronha, em 1737, foi a pesca uma das atividades praticadas por presos e correcionais ali confinados, sem que o produto da sua jornada de trabalho fosse a ele próprio destinado. A vida naquela lonjura, e com tantos criminosos, não era mesmo para ser facilitada, mas gasta em trabalhos constantes, que mantivessem o preso ocupado, sem folgas. E, entre os “trabalhos” destinados a esses homens, estavam as jornadas de pesca, com desembarque de peixes feito no “Porto do Cachorro”, próximo ao Parque de Sant´Ana, uma das fortificações do grande Sistema Fortificado Noronhense (considerado “o maior do Brasil, no século XVIII, com dez fortes em 17k²”). Nas suas muralhas, desde o final do século XVIII, costumavam os presos salgar o peixe trazido do mar, para serem consumidos nos dias que se seguiriam. Por isso, surgindo daí o nome popular Reduto da Salgadeira”.

Embora farto, facilmente pescado, nas proximidades do Arquipélago ou em saídas para mais distante, o peixe era alimento para os que dirigiam o presídio; só uma vez por semana destinado ao preso, que tinha o seu habitual “muniço” formado por feijão, farinha e charque.
 
Em 1942 criou-se o Destacamento Misto da II Guerra Mundial. E, ao implantarem-se os diversos serviços necessários para a sobrevivência de três mil “pracinhas” em Fernando de Noronha, foi enviado para a ilha o Serviço de Pesca, como uma das organizações da estratégia de defesa montada. E com ele vieram apetrechos mais modernos que as formas artesanais de pesca, inclusive com barcos a motor. Extinto o Destacamento Misto em 1945 (com o final da guerra), restou o Território Federal Militar, administrado pelo Exército até 1981; pela Aeronáutica até 1986; pelo EMFA até 1987 e pelo MINTER, quando recebeu o seu 1º e único governo civil. Nesse tempo de TFFN, a pesca passou a ser praticada por ilhéus-pescadores. E foi estimulada a pesca submarina como lazer, sendo conhecida a presença de famosos, como Ivo Pitanguy, nos campeonatos de caça submarina organizados pelos militares.
 
Em 1957 o governador militar da ilha, José Francisco da Costa, firmou um convênio com o Prefeito do Recife, Pelópidas Silveira, para “abastecer o Recife de peixe, na Semana Santa daquele ano”. E, para isso, destacou cem (100) pescadores da Colônia Z-1, do Pina/ Recife, enviando-os para a Fernando de Noronha, a fim de ensinarem o seu ofício aos pescadores noronhenses, conseguindo a captura da maior quantidade de peixes que pudessem, a fim de que o objetivo da ida fosse atingido. É desse tempo o costume de vender-se, na sede do TFFN no Recife, peixes vindos do Arquipélago, que tinham procura e sempre eram considerados “em pequena quantidade”.
 
Uma parte daqueles pescadores desgarrou-se do compromisso oficial do convênio e ficou na ilha, integrando-se com os ilhéus e mandando buscar a família ou constituindo-a por lá, o que significou – com o passar dos tempos - um aumento considerável da população. Também criou-se a Associação Noronhense de Pesca – ANPESCA, congregando os pescadores, para que aprendessem a defender seus direitos.



 
Com a reintegração do Arquipélago a Pernambuco (estado ao qual pertenceu até 1938, quando foi requisitada “a título precário” pelo Presidente Getúlio Vargas e nunca devolvida) e, ao mesmo tempo, a criação do Parque Nacional Marinho – PARNAMAR/FN, a pesca passou a ser enquadrada entre as atividades submetidas às normatizações necessárias, por ser o lugar agora uma área de conservação. À época, somente os habitantes mais velhos, que costumavam pescar como lazer, em determinados pontos da ilha principal ou da Ilha Rata (ilha secundária), tiveram autorização para continuar pescando nos seus “pontos”, sem que essa autorização tivesse nenhuma continuidade, após o falecimento desses. E a pesca seguiu, como é até os dias atuais, sendo normatizada, feita no alto mar, monitorada pelos que compõem o órgão ambientalista de controle, hoje o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio e antes o IBAMA.
 
Também foi estímulo para Campeonatos de Pesca, realizados a cada ano, dentro das normas vigentes e que atraem cada vez mais os amantes dessa atividade como lazer. O Turismo de mar, praticado na ilha, tem incluído entre o leque de opções de atividades marinhas, a pesca feita por turistas, conduzidos e orientados por engenheiros de pesca, preparados para incrementar a atividade sem dano para a ilha.

E, no rastro da História, vale recordar a experiência vivida por concluintes de Engenharia de Pesca da UFRPE, sob a coordenação do Prof. Yashito Motorrachi, em 1990, que levou 12 estudantes para o desenvolvimento da pesca com uso do “espinhel” e do “atrator” como instrumentos para captura de peixes e tubarões, infelizmente encerrada pela morte de quatro desses rapazes na queda do Bandeirantes do Governo de Pernambuco, em 20 de setembro daquele ano.

Registram-se hoje essas informações em homenagem a Pelópidas Silveira, Prefeito do Recife que entendeu a necessidade de melhorar a pesca em Fernando de Noronha, conveniando com o então Governador do TFFN o envio dos pescadores do Recife, naquele distante 1957, alguns dos quais continuaram na ilha de forma definitiva! Uma ação pouco conhecida dos que hoje homenageiam aquele político pernambucano, no centenário do seu nascimento. 

Fotos: 
1 - Pelópidas Silveira
2 - pesca na década de 1930
3 - pesca de Biu Guarda e Sérgio Lino  
 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

DOM HELDER: INICIA-SE O RECONHECIMENTO DE SUA SANTIDADE





DOM HELDER: INICIA-SE O RECONHECIMENTO DE SUA SANTIDADE

Agora, é oficial: o Vaticano iniciou a trajetória de reconhecimento da santidade de Dom Helder Camara e essa aceitação foi hoje proclamada no Recife, pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, em solenidade repleta de emoção e saudade!  

A Igreja devia essa iniciativa aos milhares de devotos e admiradores do Dom da Paz. A Arquidiocese de Olinda e Recife, onde ele viveu por décadas e onde partiu para a eternidade, lutava por ela, desde a sua partida, em 1999. E esse dia chegou. O dia do começo de uma caminhada fundamentada em registros de sua vida abençoada, O momento UM dela se fará com muitas mãos, muitos valiosos depoimentos, inúmeros documentos, registros importantes, nacionais e internacionais...

Seja qual for o prazo que venha a ser cumprido, esse começo é um sopro de LUZ para uma VIDA ILUMINADA, exemplarmente vivida, inundando nossos corações helderianos convictos, que guardam na alma um mundo de evidências de uma santidade visível em cada um dos seus dias.

Um dia, eu quase “profetizei”, no final do folheto do cordel
Dom Helder no céu”:
 

 “... Daqui a pouco, santinho,
É assim que irão lhe chamar.
O “Dom” do seu nome, filhinho,
Logo, logo irão tirar.
Vão juntar as coisas lindas
Que você andou a fazer
E, com a Minha aprovação,
SÃO HELDER você vai ser!!!”

Era a voz de Deus referendando a chegada do seu filho amado ao paraíso,
que encerrava o poema... E assim será. Aleluia!



sábado, 4 de abril de 2015

PÁSCOA - 2015













       Atravessar a escuridão da noite
carregando no coração a esperança de que se faça a luz...

Enfrentar o desânimo que por vezes nos assola
vendo, diante de si, uma alvorada que se prepara silenciosa...

Calar-se diante da injustiça que se configura
ansiando o momento da verdade, com a vitória da paz...

Contradições de cada dia.
Atitudes que podem salvar o homem.
Certezas que se sobrepõem na dualidade da vida.

A PÁSCOA é isso:
- o triunfo sobre a morte 
- a luz que aclara as trevas
- o cumprimento das promessas de Deus.

A PÁSCOA é isso:
- esperar contra toda a desesperança.
- acreditar nas promessas divinas,
- entregar-se por inteiro à fé.

A PÁSCOA é isso:
- um esperado momento de redenção.
- um aleluia que ecoa pelo mundo cristão.
- uma madrugada reveladora de amor ao homem.

Que assim seja essa PÁSCOA que mais uma vez viveremos!

                                                                             

quarta-feira, 1 de abril de 2015

OLINDA E A PÁSCOA



Há uma magia toda especial em Olinda no período quaresmal... Cerimônias pungentes, marcadas pelos sons das matracas; cânticos que falam da esperança, da vitória sobre a morte, repetindo palavras bíblicas; passos cadenciados em corredores de seculares conventos; jejuns silenciosos de gente de religiosidade simples; procissões pelas ladeiras e becos dos sítios históricos e tantas outras evidências de que aqui a Semana Santa e a Páscoa têm gosto de eternidade e sempre deixam saudades...

Para muitos, repetir liturgias quaresmais é compromisso de vida. Visitar igrejas despidas de ornamentos e aguardar o momento de recheá-las de flores e ramos, para a Ressurreição. Varar a noite em vigília serena, à espera da madrugada vitoriosa em que o Cristo ressurge e, nesse instante, confirmar sua fé diante da Páscoa que se avizinha.

E aí, nada de dobres de sinos nostálgicos e sim a euforia do aleluia, invadindo corações e aproximando os povos. E aí, percursos retomam os acidentados caminhos olindenses, cantando sua euforia novamente pelas ruas. Já não é madrugada quanto o cortejo retorna... Chegou o dia de PÁSCOA. Jesus ressurgiu! A morte foi vencida. O homem pode ter esperanças!

Essa Olinda religiosa é a mesma que percorreu caminhos de festa, no Carnaval que terminou ainda agora! Mudam-se os trajes.  A fé permanece intocada e verdadeira, pés descalços, talvez, penitenciando-se de qualquer arrependimento. A cidade desperta, na Páscoa, tão linda como sempre foi, banhada pela luz do Cristo que ressurge, povoada dos sons dos sinos de suas 22 igrejas e 11 capelas, celebrando a vida e o amor!