Pelas ruas do Recife e de Olinda uma espécie de frenesi
para atacar a todos... Correria para comprar adereços, para reativar o acervo
de CDs carnavalescos, para definir em qual das programações temáticas cada um
estará engajado... Decisões. Definições. Inquietações. Expectativas. Soluções.
Até mesmo a “fuga“ para lugares onde o Carnaval não esteja, como alternativa
para quem quer o recolhimento e a introspecção...
Esse
é o tempo que antecede o Carnaval. Ninguém fica alheio à sua chegada, mesmo que
tenha de definir se vai se envolver ou escapar de tudo. Esse é o tempo também de
preparar-se para o “Ciclo” religioso seguinte – a Quaresma – mergulhando
nas reflexões que caracterizam o período e que preparam a alvorada da
ressurreição: a Páscoa.
Pelo
Brasil afora o Carnaval é, quase sempre, limitado a desfiles de Escolas de
Samba que, nem de longe lembram os monumentais desfiles do Rio de Janeiro e, em
dose menor, de São Paulo. Também acontecem apresentações de trios elétricos de
inspiração baiana, dando ao país um caleidoscópio limitado de uma folia
repetitiva, com adesões de jovens, sobretudo.
Em
Pernambuco, não. Aqui as diferenças
são muitas, mesmo que - aqui e ali – algumas semelhanças apareçam nos palcos
dos “Pólos” distribuídos como centros de folia e pelas periferias. Mas a riqueza
e a diversidade do Carnaval pernambucano é imensa e tem raízes longínquas,
oriundas da mistura de raças identificadas à luz da História, e no abnegado
compromisso de tantos carnavalescos que, pela vida afora, deram-se ao prazer de
perpetuar o Carnaval autêntico, pela mistura de sons e de músicas, pelas
indumentárias que guardam tradições, pelos cortejos que são formados à luz de
um passado completamente presente nos dias de hoje.
É
o Carnaval dos Maracatus – de baque solto ou baque virado – enchendo as
ruas com seus instrumentos na maioria de percussão, cobrindo-se de cor e de
brilho nas suas roupas, respeitando sempre a magia da suas origens...
É
o Carnaval dos Blocos Líricos, enfeitados e acompanhados por
instrumentos de pau e corda, entoando lindas melodias dos “Frevos-de-Bloco”,
evoluindo lentamente pelas ruas estreitas de Olinda ou em direção ao Recife
antigo...
É
o Carnaval das Troças organizadas ou irreverentemente em liberdade, fazendo ecoar o
seu “grito de guerra” em forma de canção, como a marcante e inesquecível música
da “Ceroula” em Olinda...
É
o Carnaval dos Clubes tradicionais pelas ruas, cultuadores e guardiões do Frevo,
genuíno ritmo de Pernambuco, patrimônio imaterial, que agora também mereceu ser
reverenciado, de forma museal, no “Paço do Frevo” e que explode pelas
ruas com suas orquestras de metais e percussão, seus passistas
extraordinários...
É
o Carnaval das Tribos de Caboclinhos, herança indígena perpetuada somente por
essas bandas, fazendo seu acrobático bailado e suas vestes com penas tão
significativas...
É
o Carnaval das La Ursas, dos Mascarados, dos Papangus, dos grupos que se juntam
em torno de uma ideia, uma afronta, uma profissão, uma reivindicação anárquica,
ou mesmo sem razão nenhuma para a folia mas, tão somente, o desejo de estar
junto e comemorar a vida, a alegria, a vontade de ser feliz... É o Carnaval do inesquecível Galo da Madrugada, que reina - soberano e absoluto - no sábado da folia...
Bem-vindo,
Carnaval, mais uma vez!!!