domingo, 26 de abril de 2009

PALAVRAS DO PROFETA


Entende e ama
não só
as praias acolhedoras
que convidam ao descanso
e despertam sonhos,
mas as praias ásperas
que parecendo hostis
são convite perene
à meditação
não tanto apenas
sobre as acolhidas diferentes
que damos aos outros,
mas meditação
sobre o mistério
das medidas estranhamento diversas
aplicadas por Deus
às criaturas...
Dom Helder Camara - Recife, 20 de abril de 1964

sexta-feira, 24 de abril de 2009

24 DE ABRIL - SAUDADE DE DOIS GRANDES MAESTROS!


Eles nasceram na mesma data, em tempos diferentes. Tiveram diferentes trajetórias musicais.

Um – JÚLIO BRAGA - desde sempre, preferiu a música erudita e privilegiou apenas o piano como seu instrumento de trabalho e de amor, Levou ao mundo a grandeza da sua criação, compondo obras extraordinárias, a maioria feita quando vivia no exterior, apresentando-se como concertista, ensinando o seu doce ofício de pianista, dirigindo o Conservatório da Venezuela.

O outro – FERNANDO BORGES – violinista desde os 6 anos de idade, auto-didata em muitos outros instrumentos que aprendeu pela vida, mestre da música popular (e, em muitas ocasiões, também de peças clássicas). Por mais de 40 anos, o multiartista, o “show-man” das festas no Nordeste.

Os dois nasceram neste 24 de abril. Ambos fizeram história, com sua paixão pela Arte e seu desempenho correto naquilo que faziam.

Júlio Braga, olindense, nunca esqueceu a Olinda onde nasceu, homenageando-a em composições que escreveu, todas elas hoje acervo de instituições de Pernambuco voltadas para a Música.

Fernando Borges, recifense, foi tão importante para o entretenimento da juventude do seu tempo, especialmente nos belos e saudosos Carnavais do Recife.

Nossa homenagem aos dois inesquecíveis homens da Música!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

DESCOBRIMENTO DO BRASIL


Navegas em alto mar,
ó bandeira portuguesa...
E vais em buscas de sonhos,
de esperanças e incertezas!

Desfraldada ao vento, liberta,
ó bandeira portuguesa,
carregas saudades, sorrisos,
alegrias e tristezas.

Quanto tempo a caminhar
pelo mar desconhecido...
Lentamente a se afastar,
enfrentando mil perigos...

Não vais sozinha: vão contigo
os desejos de outras terras,
de conquistas, de riquezas,
que há muito estamos à espera!

Ó bandeira portuguesa
que Cabral carrega, à proa,
cumpre o teu imortal destino:
dá-nos uma terra boa,

uma terra abundante
em pedras, florestas, ouro ideal,
que possa cobrir de glórias
nosso amado Portugal!

(publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” – Paulinas, 1986)

terça-feira, 21 de abril de 2009

INCONFIDÊNCIA MINEIRA


TIRADENTES

Ele sonhou com um Brasil livre
de todas as escravidões impostas pelos homens.

Fez da liberdade a sua bandeira,
ousando tê-la, “ainda que tardia”.

No silêncio das frias madrugadas
ouviu e fez ouvir planos audaciosos
que se apoiavam na força dos que
– à semelhança dele –
queriam uma pátria verdadeiramente livre.

Pagou caro o seu sonho.
A traição.
O abandono.
A aceitação do doloroso fardo de todos.
A sentença.
A humilhação que se seguiu.
A morte.

Depois, no passar inevitável do tempo,
a glória de haver dado um passo decisivo,
a homenagem que ecoa
pelos largos espaços das Minas Gerais.

E, à solidão do mártir que a tudo suportou,
nada se pôde acrescentar em vida,
ainda que se vislumbrasse
(como se crê quando a causa é verdadeira)
que o futuro dos tempos conheceria a justiça
e haveria de chama-lo HERÓI!
(Do meu livro "Cantando o amor o ano inteiro" - Paulinas, 1986)

sábado, 18 de abril de 2009

É TEMPO DA "FESTA DA PITOMBA" NOS MONTES GUARARAPES


A tradicional Festa de Nossa Senhora dos Prazeres é realizada, anualmente, após o domingo da Páscoa no Parque Histórico Nacional dos Guararapes, município de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife/Pernambuco, local considerado o “berço da nacionalidade brasileira”, por nele terem ocorrido as definitivas lutas contra os holandeses.

Comumente chamada Festa da Pitomba, por acontecer na época da safra da pitomba, uma fruta tropical muito apreciada no nordeste, é cercada de lendas que lhe conferem um misterioso ar sobrenatural.

Diz a tradição que, nas duas importantes batalhas travadas nos Montes Guararapes, entre brasileiros e holandeses, Nossa Senhora dos Prazeres teria aparecido milagrosamente aos soldados, protegendo-os e fazendo-os conseguir a vitória sobre os inimigos estrangeiros. Em agradecimento, o comandante das tropas brasileiras, o Gal. Francisco Barreto de Menezes, prometeu que, mandaria edificar, às suas custas, um altar-mor na capela existente naquele local. E cumpriu a promessa, sendo a Igreja dos Prazeres, por essa razão, uma Igreja “votiva” (nascida de um voto feito). Na entrada do templo, há uma placa que registra o acontecimento

Em 1656 (dois anos após a vitória definitiva obtida) a Capela foi entregue pelo seu benfeitor à Ordem Beneditina de Olinda, estabelecendo ele que, todos os anos, a partir de 1657, “deveria ser exaltada Nossa Senhora dos Prazeres, com grandes festejos e muita pompa.” E isso é feito até hoje, sendo os monges beneditinos responsáveis pos esse compromisso, que começa na segunda-feira, após o domingo de Páscoa e dura dez dias, com novena e a festa, propriamente dito, na qual é realizada a procissão com a imagem da Virgem, seguida por devotos que pagam promessas, caminham descalços e carregam consigo os ex-votos que vão depositar junto ao altar.

A primitiva Capela de Nossa Senhora dos Prazeres tinha sido construída nas primeiras décadas do século XVII, nas terras doadas pelo capitão Alexandre Moura, proprietário do Engenho Guararapes, no atual município de Jaboatão dos Guararapes. Com recursos da promessa feita em meio à luta, ela cresceu em importância artística, sendo ampliada entre 1676 e 1680, por Dom Macário de São João, um religioso pertencente ao Mosteiro Beneditino da Bahia. O prédio da tornou-se maior, a nave mais larga e foi feita a sacristia. As obras da capela-mor, dos altares laterais e do arco-cruzeiro, foram concluídas em 1720. Seu frontispício é atribuído ao arquiteto Francisco Nunes Soares, feito em 1795.

A festa está inserida no calendário cultural e religioso do Estado e nela - afora as celebrações religiosas ao redor do templo - acontecem festejos populares, com apresentação artísticas, barracas de artesanato, parque de diversões, repentistas, danças folclóricas e comidas típicas, sendo grande o consumo da pitomba, uma fruta muito apreciada pelo povo e que tem sua safra exatamente nesse período. Daí o segundo nome dado à comemoração: FESTA DA PITOMBA, uma festa que resgata tradições religiosas, de forte cunho histórico e cultural.

Neste ano de 2009, acontece a 352ª edição e é considerada uma das mais antigas festas religiosas-populares do Brasil.


quinta-feira, 16 de abril de 2009

OBRAS COMPLETAS DE DOM HELDER CAMARA - INÍCIO


Escrever cartas foi sempre uma forma muito especial de comunicação, ao longo dos tempos. Para Dom Helder Camara, essa era uma prática constante, fazendo ele de suas cartas um recurso para abrir-se aos amigos, evangelizar, narrar acontecimentos, atualizar informações, fazer história.

Pois neste 14 de abril passado, esse costume helderiano gerou obras de um valor excepcional, com o lançamento de mais de 600 cartas inéditas feitas por ele, num período que vai de 1962 a 1965, tanto nos bastidores do Concílio Vaticano II, como outras, que registram suas impressões no espaço de tempo entre as quatro reuniões conciliares. Um trabalho de fogo, capitaneado por dois especialistas (professores Luiz Carlos Marques, Roberto Faria e Zildo Rocha). Começa assim a edição das OBRAS COMPLETAS do Dom, que reunirá tudo aquilo que ele nos deixou, como herança cultural enriquecedora!

A festa foi comovente! Gente de todas as crenças, amigos e admiradores do inesquecível Profeta, reuniram-se de forma descontraída, inclusive com a presença - no ato - do jovem Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ele mesmo um dos maiores seguidores do Dom.

Foram seis os livros lançados... Três deles chamados “Circulares Conciliares”, falam doa bastidores do encontro de líderes religiosos que mudou os rumos da Igreja Católica no século XX. Os outros três, chamados de “Circulares Interconciliares”, escritas nos intervalos das quatro sessões do Concílio, igualmente contemplam o testemunho de um homem sábio sobre os acontecimentos desses tempos. Importante: as cartas eram feitas nas vigílias das madrugadas às quais o Dom se entregava...

O lançamento desses livros está incluído nas comemorações do centenário do nascimento do Dom, que vem sendo celebrado desde 2008 e se estenderá até fevereiro de 2010.

Publicadas pela Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, as cartas do Dom da Justiça são documentos para estudiosos, que tiverem interesse em conhecer profundamente um dos mais importantes religiosos do mundo, amado e prestigiado por gente de quase todos os países. Os textos descrevem o dia-a-dia das reuniões, comentários e informações pessoais, pois foram escritas para amigos aos quais ele chama, carinhosamente, de “família”. Também falam sobre a Arquidiocese que veio comandar e, nela, do seu trabalho pastoral. Todo o cabedal de escritos integra o acervo do Instituto Dom Helder Camara, com sede no Recife.

Futuramente, a coleção será ampliada, com o trabalho já iniciado por uma equipe da Universidade Católica de Pernambuco, para registro e edição das cartas pós-conciliares, escritas depois de 1965.

São passos importantes para que o imenso cabedal de escritos de Dom Helder Camara cheguem à luz e espalhem o bem para a humanidade.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

PÁSCOA.


Alegria, amigo!
É Páscoa.

Crê de novo no amor
(mesmo que tenhas permitido
o ódio em teu coração...)

Crê de novo na esperança
(ainda que tenhas vivido
nas trevas do abandono...)

Crê de novo no Cristo
(ainda que O tenhas afastado de tua vida
por causa dos apegos terrenos...)

Alegria, amigo!
É Páscoa.
É tempo de fé,
de perdão,
de “renascer”!

sábado, 11 de abril de 2009

45 ANOS DA CHEGADA DO BOM PASTOR A PERNAMBUCO


Os católicos de Olinda e Recife saíram às ruas para celebrar a chegada do seu Pastor, naquele 11 de abril de 1964. Mesmo sob o trauma dos últimos acontecimentos - a prisão de militantes considerados “de esquerda”, inclusive o Governador de Pernambuco, Miguel Arraes – uma multidão acorreu para os locais por onde passaria o cortejo vindo do aeroporto dos Guararapes e aplaudiu, pediu bênçãos, gritou pelos caminhos, a felicidade de estar recebendo aquele Arcebispo tão contraditório na sua aparência frágil e na fortaleza de suas palavras e ações, como o fora no Rio de Janeiro.

O povo pernambucano interrompia, de vez em quando, a passagem de Dom Helder Camara pelas ruas, com o coração cheio de esperanças de um fecundo tempo de paz no seu pastoreio!

Naqueles instantes de festa popular pública, ninguém seria capaz de imaginar o que haveria de vir, nos anos que se seguiriam, iluminados pela sua presença inesquecível e pela forte repressão de que seria alvo... Certamente, a premonição da maioria guiou seus passos para a festa da chegada!

Na praça em frente à Igreja do Santíssimo Sacramento / Matriz do bairro de Santo Antônio, a multidão ouviu, respeitosamente, o seu pastor. E suas palavras calaram profundamente em cada um, embora inquietassem a outros... Suas verdades mudariam para sempre os rumos da Igreja Católica no Nordeste.

Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes
e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição,
anti-reformistas ou reformistas, anti-revolucionárias ou revolucionárias,
tidas como de boas ou de má fé. Ninguém pretenda prender-me a um
grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos ou seus amigos e
querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu
coração estarão abertas a todos, absolutamente a todos.
Cristo morreu por todos os homens:
a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.”
(Discurso de posse, abril / 1964).

No dia seguinte – 12 de abril - em solene liturgia realizada na Basílica do Carmo do Recife, diante da imagem da padroeira da capital pernambucana, Dom Helder tomava posse da Arquidiocese de Olinda e Recife, como seu 30º Bispo e 6º Arcebispo. Humildemente, usaria o báculo de madeira do seu Bispo Auxiliar, o também inesquecível Dom Lamartine Soares... Nem isso ele possuía, então!

Hoje, dia 11 de abril de 2009, 45 anos mais tarde, lembramos, com muita saudade aqueles dias de 1964, quando vivemos todos – membros dessa Igreja que ele representava – o presente que nos fora reservado, na designação de um santo e ativo homem de Deus, como Pa5stor de nossas vidas!

Que bom que isso um dia aconteceu!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

UMA DAS MAIS BELAS PROCISSÕES QUE JÁ VI...


Era uma Sexta-Feira Santa. Na linda cidade portuguesa de Vila do Conde, do Distrito do Porto, ao Norte de Portugal, os preparativos tinham começado desde cedo... Pelas 16h, após a cerimônia religiosa, formou-se o cortejo da PROCISSÃO DO SENHOR MORTO, que saiu da Catedral da Sé.

Banhada pelo Atlântico e situada à margem da foz do Rio Ave
, Vila do Conde é – alem de um importante centro industrial, porto de pesca e zona balnearia - um pólo de irradiação religiosa, conservando tradições que atravessaram os tempos e chegaram aos nossos dias, na sua pureza e sob o respeito que merecem ter.

Na “Rua da Igreja” (uma rua quinhentista, no centro histórico de Vila) o cortejo se formou com garbosos cavalos que precediam o séquito; estudantes universitários envoltos em suas capas pretas; irmãos terceiros e irmandades com seus mantos identificativos; guardas especiais encapuzados, cobertos por capuzes pretos e portando fachos acesos; bandas de música executando compungidos dobrados; e o esquife visível do Cisto morto, respeitosamente coberto por um palío roxo, levado por homens também vestidos de preto e portando seus mantos de irmandades.

À frente do andor, uma cantora lírica, que entoaria – diante de cada capela onde se deram as paradas para reflexão – um canto de amor à Cruz redentora, ao sacrifício do Senhor Jesus, evocando sua morte dolorosa... Era como um lamento comovedor, lindamente executado, com discreta amplificação que em nada empanava o brilho daquele desfile de fé e de amor à Igreja Católica.

Esta terra singela, marcada por aquedutos e por monumentos religiosos extraordinários, de existencia anterior à fundação de Portugal (desde 953), cercada de aldeias rurais e de espaços em crescimento,
faz procissões como ninguém e seu modo de proclamar sua fé publicamente certamente serviu de modelo a tantas outras cidades portuguesas e atravessou o oceano, vindo moldar-se sobretudo aqui, no nordeste do Brasil.

Cidade-Irmã” de Olinda, terra da tradição da "renda-de-bilro”, é também uma terra onde os costumes católicos são valentemente cultuados. E foi essa procissão daquela Sexta-feira Santa que me fez agradecer ao Cristo que celebrávamos, a oportunidade de ser participante de uma importante e bela demonstração de fé.

Sem dúvida, uma das mais lindas que já vi!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

PÁSCOA ESPERANÇA!


PÁSCOA ESPERANÇA!

Para que haja luz
é preciso que a vela queime...

Para que haja perdão
é preciso que um Deus se entregue até a morte...

Para que haja alegria
é preciso renascer, na PÀSCOA, na Esperança...

Para haja amor,
é preciso quem o homem creia e faça,
segundo sua missão
e a salvação que o Cristo tornou possível,
com o seu supremo sacrifício de cruz!
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(publicado no meu livro "Cantando o amor o ano inteiro - Paulinas, 1986)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

É TEMPO DE PROCISSÕES EM OLINDA...


Em todos os lugares, a Procissão tem um significado evidente de testemunhar a fé do povo cristão-católico, como cortejo religioso que é, vivenciado em ocasiões marcantes da Igreja. Seja para festejar-se o padroeiro de um lugar ou marcar as celebrações do calendário cristão-católico (como na Semana Santa, por exemplo), sair às ruas em procissão, transportando imagens, rezando e cantando, tem o simbolismo da caminhada de uma comunidade em oração, como Povo de Deus em marcha para o céu.

Pelo mundo afora, as procissões são realizadas desde tempos distantes. Talvez, nos tempos de agora, até tenham até diminuído de tamanho e freqüência, como se, por respeito humano, os homens não queiram mais professar a sua fé publicamente. E, nas cidades grandes, isso se tornou cada dia mais raro, pelo trânsito caótico que precisa ser modificado, pela correria que caracteriza todas os grandes centros urbanos.

Em Olinda, a condição reservada dos sítios históricos e a grande quantidade de igrejas nele situadas, sugere um ambiente propício para a realização de procissões, pelas suas ladeiras, ruas e praças, por onde o povo caminha muito a pé, E há ainda o costume recente de reservar-se parte desses espaços para as pessoas andarem, retirando-se os veículos nos finais de semana, exatamente para facilitar o movimento turístico constante,

Fazer procissão em Olinda é caminhar entre monumentos seculares, erguidos em suas sete colinas, rodeado de muitos verdes, permitindo a reflexão diante da natureza e do aproveitamento topográfico feito pelo homem que nele se encanta!

Algumas dessas procissões – como agora, na Quaresma e na Semana Santa – possuem ainda a marca daquilo que se ergueu aí com essa finalidade específica, como os Nichos, somente abertos para a Procissão dos Passos. E, é exatamente nesse tempo de penitência e oração que ocorrem as mais bonitas procissões olindenses:
· A PROCISSÃO DO ENCERRO
· A PROCISSÃO DOS PASSOS
· A PROCISSÃO DOS RAMOS
· A PROCISSÃO DO SENHOR MORTO
· A PROCISSÃO DA RESSURREIÇÃO

Cada uma delas repete, de forma dramática, momentos da caminhada de Jesus para o Calvário, sua morte e sua Ressurreição, proclamando essa verdade da fé católica de maneira forte, na representação das imagens levadas, nas flores que as enfeitam, nas sacadas igualmente ornamentadas, nas vestimentas das Irmandades, Confrarias e Ordens Terceiras que formam o cortejo principal, seguido pelos fiéis que rezam e cantam juntos.

Há uma beleza especial na continuidade desses ritos... Eles evocam as verdades da fé católica e acontecem numa terra fadada a acolhê-los. Este é o tempo de revê-los, de segui-los, de emocionar-se com tudo. Este é o tempo das PROCISSÕES DE OLINDA, lindas, como sempre o foram!

domingo, 5 de abril de 2009

SAUDANDO O CRISTO QUE PASSA...


Por que aquela multidão correu, atônita,
para saudar - com ramos de palmeira -
o homem simples que passava?

Que razões levaram aquela turba barulhenta
a gritar, pelas ruas do povoado,
agitando galhos arrancados das árvores dos caminhos?

Por que saudavam o Cristo que chegava,
para cumprir seu tempo de cruz e de sofrimento,
se daqui a pouco haveriam de aplaudir a condenação?

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E nós? Também somos daqueles que saúdam
e, depois, atraiçoam, condenam, matam,
levados pela dureza dos nossos coração?

E nós, que repetimos pela vida gestos semelhantes,
traindo nosso compromisso de batizados
e procedendo como gente que não tem fé?

E nós, ó Cristo que passa pelo nosso caminho,
somos capazes de abrir nossa porta e nosso coração,
para que Tu fiques - de forma definitiva - em nossa vida

... e não de forma passageira e ilusória?

E nós?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A PRISÃO DE ARRAES EM FERNANDO DE NORONHA


”Quando deixou o Palácio do Campo das Princesas, já sem mandato, Miguel Arraes foi levado para uma cela no Quartel do Socorro, em Jaboatão dos Guararapes. Lá, aguardou a transferência para a prisão no arquipélago de Fernando de Noronha, no dia seguinte... No arquipélago, foram meses de prisão, interrompidos apenas uma vez, quando foi autorizado a voltar ao Recife para assistir ao casamento da filha Ana Lúcia com Maximiniano Campos, no dia 7 de agosto de 1964... A cerimônia foi celebrada na capela da Base Aérea do Recife, onde Arraes pôde assistir à celebração, “Ele pôde abraçar a filha e voltar como prisioneiro à ilha”, descreveu o amigo Antônio Callado, no prefácio do livro Miguel Arraes – Pensamento e Ação Política."
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02 de abril de 2009. Uma data importante, que assinala os 45 anos do confinamento de Miguel Arraes de Alencar, Governador de Pernambuco, em Fernando de Noronha.

Deposto no dia 1º de abril de 1964, no rastro do golpe militar que aconteceu no País, o destino deste nordestino foi definido como os de tantos outros políticos do passado: a segregação num Arquipélago longínquo, escolhido para abrigar um presídio para presos comuns, mas que havia acolhido também, esporadicamente, em dois séculos de existência, grandes líderes dos conflitos nacionais, como o Gal. Abreu e Lima, o poeta Jeronymo Villela, o ex-governador de Pernambuco Barbosa Lima, e Gregório Bezerra, Maringhela, Agildo Barata Ribeiro, entre tantos, através dos tempos.

Naquele 02 de abril, era para lá que haveriam de seguir mais uma leva de de trabalhadores, estudantes, funcionários públicos, juristas, líderes sindicais e homens que constituíam o poder legítimo, outorgado pelo povo. Entre eles, Miguel Arraes que governava Pernambuco de forma ousada e fecunda.

Na ilha, o único privilégio que mereceu foi o de ficar detido em alojamento separado dos demais prisioneiros, tendo como companheiro, dividindo um mesmo “iglu” (como são chamadas as construções do antigo “Posto de Observação de Mísseis Teleguiados”, implantado e ocupado pelos americanos na região do Boldró, entre 1957 e 1965) com o ex-governador de Sergipe, João de Seixas Dória. Ao longo do dia, somente uma hora para o “banho de sol” e fazer refeições, sob esquema de segurança.

Foram meses ilhado... Poucas vezes foram concedidas visitas de familiares (não só a ele como a todos que mereceram o mesmo castigo). Uma só saída da ilha, autorizada pelo IV Exército: para assistir, em 07 de agosto daquele ano fatídico, ao casamento da filha mais velha, realizado na Base Aérea do Recife.

Depois, trazido de volta ao continente quase nove meses depois, viria o exílio, a anistia, a volta para casa e, na virada da História, a nova eleição vitoriosa para Governador de Pernambuco... E, como um presente especial, coube-lhe receber Fernando de Noronha como pertencente ao Estado, pela Constituinte de 1988, que extinguiu os territórios federais e tornou o Arquipélago um Distrito Estadual, reintegrando-o a Pernambuco.

Foi curiosa a presença daquele homem público de poucas risadas, em 1988, como Governador, no mesmo lugar onde tinha sido confinado (hoje, sede de uma das empresas de mergulho da ilha). Naquele momento solene, ao seu lado estavam alguns dos presos ilhados de 1964, convidados por ele... Estava também o então Governador do TFFN, Jayme Augusto da Costa e Silva (identificado, pela Imprensa, como seu “carcereiro”).

Custa a crer que passaram-se 45 anos... Custa a crer que nós vivemos esse tempo, de perda e retomada da liberdade, no ciclo da vida que é concedida a cada um e que hoje, dia 02 de abril de 2009, podemos reverenciar um dos mais importantes políticos do nosso tempo, que viveu em Fernando de Noronha o isolamento, a solidão, a absoluta falta de liberdade. Que não teve chance alguma para se aperceber da profunda beleza que o rodeava, confinado naquele “calabouço” da região do Boldró!

Custa a crer que passaram-se 45 anos...