terça-feira, 30 de dezembro de 2008

UM SANTO EM FORMA DE BONECO-GIGANTE



Para quem não nasceu ou não conhece Olinda e Recife, imaginar que um padre, um bispo, um homem santo, pudesse um dia ser materializada em um boneco-gigante, pareceria – talvez – quase uma heresia... Para nós, não! Absolutamente, não!

É aqui a “pátria dos bonecos”, tanto os bonecos pequenos, aos quais chamamos MAMULENGOS (de “mão molenga”, por ser manipulado vestido como luva nas mãos que se agitam, dando vida aos pequenos “seres”), como aos bonecos-gigantes, enormes, carregados sobre os ombros de homens experientes, que com eles frevam, dançam, seguem cortejos pelas ruas, ladeiras e becos da cidade alta, em Olinda, ou nas ruas do Recife antigo.

Bonecos são sempre bem-vindos! Crianças e adultos deixam aflorar o lúdico que guardam no coração, para enternecerem-se diante de pequenos títeres/fantoches, que criam vida através dos seus manipuladores, ou postando-se diante de um gigantão, com três metros de altura, saracoteando para lá e para cá, destravando a tristeza e reacendendo a alegria.

Essa aparição inusitada aconteceu neste 30 de dezembro, pelo milagre da tradição popular e pela ousadia de abnegados “helderólogos”, que quiseram dar “vida” ao boneco-gigante HELDER CAMARA, de mãos para o alto, como a pedir por nós todos que por aqui ficamos, saudosos de sua presença material, de sua alegria carnavalesca (típica de quem nasceu num domingo de Carnaval, há quase cem anos).

O Dom Helder-boneco, criado pelas mãos de Sílvio Botelho (um dos mais famosos bonequeiros de Olinda) veio para cumprir a tradição que tem sido mantida, e que transforma em gigantes as figuras que o povo amou, qualquer que tenha sido a razão do afeto despertado... O Dom Helder-boneco veio juntar-se ao cortejo onde já estão o mestre Gilberto Freyre, o compositor Capiba, o Batata (do Bacalhau do Batata), o sociólogo Betinho e tantas outras pessoas... E sua concretização foi um sonho de Frei Aloisio Fragoso e do Grupo "Mulheres contra o Desemprego".

É assim em Pernambuco. Os que partem, de certa forma permanecem conosco em forma de boneco-gigante, povoando os espaços com sua onipresença, sempre com o rosto alegre de quem viveu na paz dos justos e hoje contemplam a legião dos seguidores deixados.

Nosso Dom estará conosco, para sempre, em nossos corações. E, para diminuir um pouco essa saudade, estará conosco agora sob a forma, volume e graça de um boneco, como manda a tradição pernambucana! Viva!
Foto: Rodrigo Lôbo/JC Imagem

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O MENINO E SUA MÃE

Maria,
o Menino descansa em teus braços...
Tão pequeno. Tão humilde. Tão indefeso.
E tu, que sabes o que estar por vir,
olhas penalizada
a multidão de homens indiferentes
ao apelo do Filho de Deus que chega.

Maria,
é Natal novamente...
Há, nos corações de muitos homens,
uma esperança enorme
de que acolhas, em teu regaço,
esse cansaço tão humano
e essa descrença tão paradoxal,
de um povo que recebe, por ti, um Deus.

Maria,
teu Menino sabe o quanto somos fracos...
Ele sabe, desde sempre,
com que vontade, tantas vezes recomeçamos,
ávidos de caminhar para Ele
e, se pudéssemos, toma-lo nos braços,
como fazes, no gesto materno maravilhoso
como Mãe – e Mãe de Deus!

(Publicado no meu livro “Cantando o amor o ano inteiro”- Paulinas, 1986)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

CONTRADIÇÃO

Chegaste, Menino,
como todos ansiavam...
(Onde estão as trombetas
para anunciar-te?)

Repousas, Criança,
na palha e na paz...
(Onde o berço de ouro
para carregar-te?)

E dormes, Pequeno,
teu sono de amor...
(Onde o suntuoso palácio
para esconder-te?)

E os homens que te olham
não te reconhecem...
- É este o Senhor
que vinha a caminho,
salvar-nos a todos?
- É este Menino singelo
que vem comandar?

E o forte mistério,
ao longo do tempo,
não se esclareceu.
Pois foi na humildade
que um Deus, feito Homem,
ao mundo chegou.
E a sua lição assim permanece:
em meio à pobreza
– inesperadamente –
um Deus aparece!

(Publicado no meu livro “As muitas faces do Bem-Querer”, Recife, 1981)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

DOM HELDER - MAIS HOMENAGENS


"Abri os olhos para uma realidade maravilhosa:
já existem, por toda parte, minorias que desejam,
de verdade, mesmo a custo de sacrifícios,
ajudar a construir
um Mundo mais justo e mais humano"

(Dom Helder, nos 25 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos,
nos Estados Unidos, em 1973)


Comemorando os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Universidade Federal de Pernambuco, através da Pró-Reitoria de Extensão e de sua Comissão de Direitos Humanos (que comemora 10 anos de existência), promoveu uma comovedora solenidade sobre "DIREITOS HUMANOS E O LEGADO DE DOM HELDER CAMARA", ao entardecer deste dia 22 de dezembro de 2008.

Autoridades, conferencistas, estudantes, crianças de projetos sociais que já se constituem uma forma de re-leitura do ideário helderiano, ocuparam o auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA, da UFPE e, sob a presidência do Magnifico Reitor, Professor Amaro Henrique Pessoas Lins, ouviram e se encantaram com palavras, canções, poemas e, sobretudo, verdade do iluminado Profeta do século XX, no seu exemplo de vida marcado pela solidariedade, pela ajuda humanitária aos necessitados, pela luta em favor dos excluídos, dos considerados fora-da-lei...

Mais uma ocasião de lembra-se o centenário de nascimento do Dom... Mais uma oportunidade de ouvirem-se depoimentos cheios de profundidade, nascidos dos contatos de tantos e em tantas diferentes momentos, com aquele que foi o mais querido Arcebispo de Olinda e Recife, levado à casa do Pai há quase dez anos.

O "Painel sobre Direitos Humanos" abriu os trabalhos, precdidos da música como forma de oração e integração. Opiniões se sucederam, mostrando um paralelo da luta pelos Direitos Humanos entre Estudantes, em Pernambuco, no Brasil e no Mundo. Muitos nomes foram evocados, pela imagem de líderes que - ao redor do planeta - fizeram-se mártires dessa causa justa e valiosa. Sobre todos permanecia a visão do Dom, sua voz "pausada e doce", dizendo mensagens importantes e sempre de uma atualidade fantástica!

Valeu a homenagem! Valeram todos os esforços para mais um reconhecimento, dessa feita reunindo o mundo acadêmico e o político, em torno de uma mesma explosão de reconhecimento!

É NATAL NOVAMENTE!

É Natal novamente...

Nem parece que o tempo passou,
tão rapidamente
e chegou mais uma vez
a era de luz e de sonhar,
esperançosamente...

É Natal novamente...

Luzes coloridas já o anunciam,
feericamente
e ele significa, hoje como sempre,
viver o agora, o pleno,
desassombradamente...

É Natal novamente...

Que bom que assim acontece,
no coração da gente,
prenunciando a paz que todos sonham,
e esperam alcançar,
eternamente...

MARIETA
*******************************
Feliz Natal / Um Ano Novo de Paz!

sábado, 20 de dezembro de 2008

DENOMINAÇÃO DAS RUAS DE UM LUGAR


E do sonho dos homens que uma cidade se inventa
(Carlos Penna Filho)

Por que dar nomes aos lugares?

As cidades, as vilas, os lugarejos, nascem do sonho e da necessidade dos homens. Tudo carrega a “marca” daqueles que fizeram surgir o lugar. E tudo nasce marcado pela necessidade da ordem, da lógica, que permita a sua fácil identificação. Daí o uso de números, de letras, de nomes, de “códigos” inventados pelo homem, para que essa ordem se mantenha e seja entendida por todos e para sempre.

A definição de um espaço urbano, exige que, desde o começo, atribua-se alguma forma de classificação, geralmente feita em letras ou números, que torne claro o seu desenrolar espacial. São assim as chamadas “rua projetada 1”, “rua projetada 2”,... ou as “quadra 1”, “quadra 2”, “quadra 3”... ou o “lote 1”, “lote 2”... e assim por diante. Depois, quando chegam os moradores definitivos, essas quadras, lotes, ruas, recebem uma outra identificação, no nome que virá a ser a sua marca imorredoura.

No passado, costumava-se atribuir nomes poéticos às ruas, aos bairros, que celebrassem a paz e a harmonia do universo. Ou que lembrassem acontecimentos marcantes. No Recife, são célebres os nomes antigos, cantados em verso e prosa. Rua da Alegria, da Amizade, do Sol, da Aurora, da União, da Saudade, no Recife. Ou Rua do Sol, da Saudade, da Bela Vista, em Olinda. Ou nomes como “Rua da Roda”, lembrando a “roda” de um orfanato, onde mães abandonavam seus filhos recém-nascidos, colocando-os numa espécie de catraca e rodando-a para que fossem para dentro da casa e lá ficassem... Depois, a mentalidade servilista de alguns líderes trouxe o modismo dos nomes de pessoas às ruas, aos bairros, às cidades, substituindo-se nomes cheios de beleza por nomes de gente importante. Exemplo disso é a antiga “Maricota”, em Pernambuco, modificada para Município de Abreu o Lima.

Manoel Bandeira, o grande poeta pernambucano, lembra, no seu poema “Recife”: “como eram belos os nomes das ruas da minha infância!” E comenta, a seguir: “tenho medo que hoje se chame rua Fulano de Tal!”

OS NOMES DOS ESPAÇOS EM FERNANDO DE NORONHA

O homem habitou Fernando de Noronha, de forma definitiva, desde 1737. E o fez, recebendo presos comuns e militares para comandá-los. Num primeiro momento, esses correcionais ocuparam os presídios e seus comandantes as poucas edificações feitas para esse fim. Havia poucos logradouros, “batizados” de acordo com o edifício principal que aí estivesse localizado E surgiram a Praça e a Travessa dos Remédios (por causa da Igreja), a Rua do Sol (onde o sol chegava pela manhã), a Travessa da Estrela (que tinha casas de um só lado e permitia a contemplação do céu estrelado), o caminho velho para a Vila da Quixaba e assim por diante. Depois, quando o modismo de atribuir nomes de pessoas foi deflagrado no Brasil-continental, comandantes de Fernando de Noronha foram denominando com nomes de antigos servidores alguns prédios públicos e alguns lugares.

No Relatório de entrega do Presídio Comum, feito em 1938, assinado pelo Ten. Cel Victtorio Caneppa, existem referências à “Travessa dos Remédios, acima da praça do mesmo nome” (diante da Igreja de N.Sª dos Remédios), à “Praça Padre Roma” (em frente à Directoria, que já tinha sido chamada de “Praça d´Armas” e recebera o nome de um dos padres que haviam atuado na ilha) e à “Estrada da Quixaba”. Esse nome “Praça Padre Roma” aparece sendo substituído em 20 / 04 / 1943, já no tempo de presença militar, pelo nome “Praça General Góes Monteiro”, do mesmo modo que a Praça dos Remédios passaria a chamar-se, a partir dali, de “Praça General Dutra”, a estrada que se dirigia ao porto passa a ser “Avenida Almirante Tamandaré” e assim por diante, numa clara alusão a um famoso militar brasileiro, sem nenhuma referência ou ligação com a ilha.

Um agravante aparece, nessas modificações dos nomes tradicionais por nomes de pessoas vivas. A Constituição de Pernambuco proíbe homenagens desse tipo de homenagens, somente sendo possível a atribuição de nomes de gente falecida, como homenagem póstuma, tanto para ruas como para prédios públicos.

O jornalista e historiador Mário Melo, que visitou Fernando de Noronha em 1916 e sobre a ilha produziu um belo trabalho, sempre atento ao comprimento da Lei, abria “guerra” contra toda e qualquer pessoa que ousasse sugerir ou acatar tais denominações. E enquanto viveu, foi abriu essas frentes de luta, sendo sempre vencedor e fazendo permanecer os nomes antigos, folclóricos, muitos sem jamais se conhecer.a origem. Em muitos casos, a opção de dar aos lugares nomes de espécies da natureza, é uma saída acatada com aplausos, pelos que passarão a habitar esses espaços. É o caso das cinco vilas de CHOAB Rio Doce, em Olinda, que batizou suas ruas e quadras com nomes de flores, como se tudo fosse um enorme “jardins”, com seus “canteiros floridos”.

Em Fernando de Noronha, seguindo essa tradição, deu-se ao caminho do cemitério o belo nome de “Rua da Consolação”, como se havia dado, no Recife e em Olinda, o nome de “Avenida da Saudade”, para lembrar os sentimentos de perda e de consolo, que a morte evoca. Também batizou-se como “Rua da Alamoa” um espaço, homenageando a mais famosa lenda noronhense, decantada em verso, em canção e em texto teatral, tanto no século XIX, como no século XX.

Outro costume aceitável, foi aquele de chamar-se pelo apelido com o qual alguns presos se notabilizaram, vindo daí a Rua Pinto Branco, por exemplo. Ou o nome de pessoas que moraram naquele espaço, ficando na lembrança dos que com elas conviveram, como é o caso da Rua Nice Noeli Cordeiro, antiga diretora da escola noronhense, que veio a falecer exatamente na rua que hoje a homenageia.

Conclui-se que o respeito ao passado exige sempre uma atitude consciente diante da atribuição ou manutenção dos nomes de uma localidade. Em respeito às homenagens mais antigas, não se deve propor uma nova denominação, apenas substituindo-se “aquele” nome por “este”. O mais correto será manter-se o nome mais habitual, com o qual a comunidade está mais familiarizada e, havendo quem homenagear, discutir-se com a população habitante de um espaço a atribuição mais adequada, prevalecendo o bom-senso, sempre, na aceitação definitiva.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

CHAMADO

Vem comigo,
vem depressa,
camarada,
pois que somos
caminhantes
nessa estrada.

Se for noite
e for escuro,
companheiro,
nada temas:
vem comigo
e vem ligeiro.

Se for dia,
todo verde,
em luz banhado,
seguiremos
o caminho,
lado a lado.

Deixa estar
os fardos tristes,
a dor magoada,
que a cantiga
que se canta
é de alvorada.

Vem depressa,
não retardes,
vem comigo...
Suave é o fardo
partilhado
com o amigo.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MAESTRO FERNANDO BORGES


Patrono da Escola Municipal de Frevo do Recife

Vê-lo e ouvi-lo era sempre emocionante... Cantando ou fazendo suas platéias cantarem; extraindo deliciosos sons do seu violino, que saltava magicamente da caixa, no principal momento da festa; executando peças ao piano, com um virtuosismo surpreendente; dedilhando a guitarra como o melhor dos roqueiros; seguindo a cadência de sambas na percussão, como o melhor dos ritimistas; no vibrafone, no violão, no contra-baixo e em tantos outros instrumentos, ele era sempre insuperável...

A música entrou em sua vida muito cedo. Criança ainda e já surpreeendia pela precocidade na liderança e na execução dos muitos instrumentos que dominava. Aos seis anos iniciava seu aprendizado, com o pequeno violino que pedira ao padrinho como presente. Depois, vieram o piano, o violão, os instrumentos de percussão, o contra-baixo, o vibrafone e outros instrumentos de corda. E a participação como tenor de tantos corais. E a regência de uma orquestra com 12 músicos afamados, para executarem os sucessos do momento e relembrarem tempos que já haviam passado, nos bailes da vida.

Como professor de Geografia que era também, criou uma de suas maiores marcas: a “Viagem Musical”, levando seu público ao delírio pela execução e narrativa das canções de todo o mundo. Também como professor reinventou as aulas-passeio, nas quais desenvolvia uma forma de aprendizado prática e eficiente, para alunos de nível médio ou superior, em excursões bem planejadas, que percorriam sertões, zonas canavieiras, praias, estações metereológicas, em busca do saber concreto e experimentado por todos. Como carnavalesco desde criança, fez inesquecíveis carmavais nos clubes sociais de Pernambuco, varando a madrugada e seguindo com a orquestra pelas ruas, já dia claro. Também como amante do Carnaval fez multidões aguardarem o maior clube de carnaval do mundo – o Galo da Madrugada – na festa de rua “Esperando o Galo”, que acolhia milhares de pessoas, nas pontes e avenidas do centro do Recife. Como exímio dançarino, estimulou a criação do vitorioso projeto “Dançando na rua”, sendo seu principal executante, fazendo o bairro do Recife antigo dançar, plenamente integrado na festa feita a céu aberto, tendo as pedras da rua como dancing...

Esse foi o maestro, o cantor, o instrumentista múltiplo, o compositor, o “show-mam”, o mestre de muitas escolas e faculdades, o coordenador dos Estudos Sociais do Centro de Estudos Supletivos, que fez história, com o seu impecável desempenho profissional multifacetário. Um homem de muitos talentos. Parece mentia que esse homem de bem que se foi a dez anos. Uma figura cheia de alegria contagiante e repertório de casos sempre prontos para serem contados, facilitando o riso em meio a um mundo frio e, muitas vezes, egoista.

Maestro Fernando Borges. Professor Fernando Borges. Inesquecível, para sempre!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CONCEITO

Cada um
é um ser único,
singular, inigualável,
na sua maravilhosa maneira de ser,
como quis o Criador.

“Se sou diferente de ti,
ao invés de te esvaziar,
eu te completo.”
Por que supor
semelhanças na afeição,
ou no conceito
que os outros têm de nós?

Por que temer concorrências
se não estimas iguais
e, quem gosta de mim,
gosta de certa forma de mim
e, de outra forma dos outros?

Por quê?

domingo, 14 de dezembro de 2008

IGREJA DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE DOS HOMENS PARDOS - OLINDA


Está em Olinda/Pernambuco, a mais antiga igreja dedicada a NOSSA SENHORA DE GUADALUPE no Brasil, uma das poucas no País sob a invocação da Padroeira de toda a América Latina.

Construída em 1626, pela devoção dos “homens pardos” (descendentes de escravos e senhores brancos, libertos ou escravos) da antiga Villa d´Olinda, foi o espaço onde esses passaram a assistir Missa, proibidos que eram de faze-lo nos “templos para brancos”.

É uma igreja de fachada simples com uma única torre sineira, erguida em um monte não muito alto, diante de um pátio e com uma grande escadaria de acesso, visível à distância... Dela se descortina bela paisagem.

Seu interior simples, que guarda a pedra tumular do seu fundador, Manoel de Carvalho, assinalando a sua morte em 1629, sofreu alterações com o incêndio ateado pelos holandeses, em 1631. O retábulo do seu altar-mor foi substituído no começo do século XX, após a destruição da antiga Matriz de São Pedro Mártir e a destinação dos altares daquela igreja para outras existentes na Diocese. No centro do conjunto está a pintura de Nossa Senhora de Guadalupe, em tela vinda do México, onde surgiu essa devoção mariana. No centro da abóbada do teto a imagem da patrona da igreja também aparece, em pintura.

A festa da Virgem de Guadalupe acontece em torno do dia 12 de dezembro, consagrado a N. Sª de Guadalupe, Padroeira do México e da América Latina, assim intitulada em 1945, pelo Papa Pio XII e tem origem na aparição da Virgem a um príncipe indígena mexicano, Juan Diego, em 1531, deixando impresso no seu manto um sinal de que era realmente a Mãe de Deus.

Á Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe de Olinda é uma das construções religiosas dos “sítios históricos” da Cidade Patrimônio Mundial.

sábado, 13 de dezembro de 2008

SONHO DE NATAL


Eu quero um Natal de amor,
como aquele que viveu Maria
e seu menino-Salvador.

Eu quero um Natal de fé,
como aquele que conheceu
o humilde carpinteiro José.

Eu quero um Natal de paz,
como aquele com que sonham
todos os homens de bem.

Eu quero um Natal de luz:
de mãos quem se reencontram,
de olhos que se procuram,
inspirados na doçura
do olhar do menino Jesus!

(Do meu livro “Cantando o amor o ano inteiro” – Paulinas, 1986)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

UMA SEMANA DE HOMENAGENS A DOM HELDER


Aquele que se deixou ficar em tudo o que criou, escreveu, poetizou, apregoou, sonhou, foi alvo de duas vitoriosas homenagens, nesta semana que termina...

De duas formas DOM HELDER CAMARA foi prestigiado e distinguido:
* no Rio de Janeiro, numa tocante solenidade ocorrida no auditório da Universidade Cândido Mendes, perante um público de olhos molhados de emoção, com a outorga do “Prêmio Alceu Amoroso Lima de Poesia e Liberdade 2008”, concedido "post mortem" e a abertura de uma exposição sobre ele;
* no Recife, com a inauguração do Edifício Dom Helder Camara, que abriga, a partir de agora, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco.

Duas diferentes maneiras de registrar o reconhecimento de intelectuais, políticos, estudantes e gente do povo, irmanados todos no caminho que leva ao centenário do seu nascimento, para o qual estamos em “rumo” desde 2007...

Na primeira homenagem, na "Cidade Maravilhosa", dia 11/12/2008, a noitada foi pura alegria, de discursos inflamados, de palavras cheias de poesia e de saudade. E a presença de Marina Bandeira, colaboradora do Dom naquele Estado, falando a todos do Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que ela conheceu tão bem e a quem serviu com extrema dedicação e carinho. E foi ela – a pedido do Reitor Cândido Mendes - quem repassou para o Instituto Dom Helder Camara – IDHeC, o troféu concedido, que eu tive a honra de receber, designada por essa instituição à qual estou vinculada!

Depois, no saguão da mesma Casa de Educação, inaugurou-se a exposição “Dom Helder – Memória e profecia no seu centenário – 1909 / 2009”, falando do “Padrezinho nosso e do mundo - Um Profeta do nosso tempo”; do “Filho do Nordeste e Irmão Universal”; do “Reformador e Fundador da CNBB”; do “Vigilante da Noite, Mergulhado em Deus”; do homem que seguiu “Pelas estradas do Mundo”; que foi “A Voz dos Sem-voz”; do homem que anunciou: “Coragem! A Noite traz a Aurora”! Uma mostra promovida pela Universidade Cândido Mendes -UCAN/RJ; pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade - CAALL/RJ; pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular - CESEP/SP; pela PUC/RJ; pelas Paulinas Editora/SP, unidos todos ao IDHeC, repetindo agora a mesma exposição realizada na França, pela Associação Dom Helder-Memoire e Actualité (Paris-Bruxelles) e o Centre Spirituel de Hautmont.

Na segunda homenagem, na "Veneza Brasileira", dia 12/12/2008, uma tocante cerimônia reuniu o mundo político, inclusive o Governador do Estado, Dr. Eduardo Campos, para dar como inaugurada o belo prédio que abrigará setores do TCE, todo ele uma oferenda ao Dom do Amor, da Paz e da Vida!

Caminha-se para esse centenário de nascimento fortalecidos com o reconhecimento de tantos, em atos e decisões que contemplam uma vida dedicada ao Amor e à Justiça, como foi a do querido Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, que nós todos amamos!

Que semana abençoada!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

HOJE É A FESTA DO MORRO DA CONCEIÇÃO, NO RECIFE

O Recife hoje está em festa! Uma festa que começou há dez dias, de muita oração e demonstração de fé, que marcam o clima da maior celebração religiosa-popular do Estado de Pernambuco – a FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, do Morro da Conceição, zona norte da cidade, bairro de Casa Amarela.

Em todos os dias “08 de dezembro” os rituais de fé e amor se repetem... Fiéis anônimos, descalços ou não, vestidos de azul e branco ou não, sobem os 800 metros de ladeira a pé, para rezar “ao pé da santa”, junto a uma imagem feita em ferro, de três metros e meio de altura, com 1.806 quilos, que é avistada de longe, no seu pedestal tão significativo, ali plantado desde 1904, ao tempo do Bispo Luiz Raymundo da Silva Brito.

Do alto, o Recife se descortina... A relação entre os católicos pernambucanos e sua Mãe, abençoando-os lá de cima, é forte e inspira promessas, compromissos, procura e oração!

A história do morro da Conceição se fundamenta no mistério profundo da Encarnação do Filho de Deus, no corpo de uma Virgem... Da sua Conceição Imaculada! Essa crença é admitida desde os tempos antigos e propagada no mundo católico. E a Igreja a fez crescer, propondo a veneração dos fiéis a essa mulher - Maria - diferente de todos os outros homens e mulheres, plenamente santa!

O dogma da Imaculada Conceição, foi proclamado em 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX e declara “a santidade da Virgem Santa Maria desde o 1º momento da sua existência, quando ela foi preservada da mácula do pecado original, no qual todos nascem”.

A verdade apregoada pela Igreja ganhou as ruas, o coração do povo, transformando-se em homenagem concreta, num santuário plantado num morro de periferia da capital pernambucana, fazendo surgir uma forma de veneração extremamente popular, que atrai romeiros, penitentes, pagadores de promessas, carregadores de ex-votos, políticos, artistas católicos e uma multidão anônima e fervorosa.

Neste ano de 2008 um novo santuário envidraçado - inaugurado em agosto - foi uma atração a mais... Mas a festa, por si só, já é uma ocasião para repetição dos ritos, nesse peregrinar que cresce mais e mais, atraindo jovens, adultos e idosos, irmanados todos pela devoção popular à Virgem do morro. Muitos deslocam-se antes que o sol apareça, para cantar “a barra do dia”, o sol que nasce lá longe e a fé que salta aos olhos, em suas diversificadas e tão queridas manifestações...

Senhora da Conceição,
minha Mãe, minha Rainha,
dá-me a tua proteção,
minha querida madrinha
!”
(versos popularmente cantados na divulgação da festa).

Que Maria, a Virgem imaculada, nos abençoe a todos, neste dia a ela consagrado! Amém.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

MAIS UMA HOMENAGEM ESTÁ SENDO PREPARARA PA DOM HELDER



Na caminhada da comissão “rumo ao centenário do nascimento de Dom Helder Camara”, muitas formas foram pensadas para homenagear aquele profeta, pela sua vida dedicada aos mais pobres, sempre na busca da paz e da justiça. Dentre essas está a gravação de um CD muito especial, reunindo canções feitas especialmente dedicadas a ele, pelos mais diversos compositores, poetas e musicistas, cantando a sua trajetória de luz, nos noventa anos em que esteve conosco, tão perto, tão presente em nossas vidas.

A iniciativa é da comissão que prepara o centenário. A coordenação é do Padre Rubens Soares de Almeida, também cantor e compositor pernambucano, com discos gravados. A ele foi dado o encargo de ouvir as tantas canções que lhe chegaram e selecionar aquelas que comporão o CD, que deverá ser lançado em fevereiro vindouro.

É emocionante descobrir as músicas que chegam... Elas expressam amor, reconhecimento, proclamação de bênçãos e saudade daquele que se deixou ficar, no muito que criou, deflagrou e fez ser a verdade da sua vida de santo. Vieram canções do Ceará (sua terra natal), do R.G.do Norte, de inúmeros lugares de Pernambuco e isso ainda não deixou de acontecer, fazendo-nos esperar que o CD resultante dessa fusão seja um exemplo de amor a um ser abençoado.

Viva Dom Helder Camara, o peregrino da paz e da justiça, em breve, em verso, e em canção!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A INTRODUÇÃO DE GADO EM FERNANDO DE NORONHA


Desde o século XVII foram sendo enviados para Fernando de Noronha gado caprino, suíno e bovino. Era a maneira de prover a alimentação daqueles que abordassem a ilha com vistas à conquistar o espaço. Foi o caso dos holandeses (no século XVII) e dos franceses (no século XVIII). Depois, instalado o Presídio Comum, a partir de 1737, a criação de animais continuou a ser praticada, inclusive para fornecer alimento aos navegantes que passavam por ali.

CRONOLOGIA DESSA ATIVIDADE:

1631 - O Conselho dos XIX (formado por 19 deputados constituídos para conduzir os destinos da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1621) encarrega a Câmara de Amsterdã de “cuidar de Fernando de Noronha”... “... deu-se incício ao plantio de fumo, algodão e a criação de aves domésticas, carneiros, porcos e gado.
1639 - Segundo o comandante-chefe do governo da ilha “o gado prosperava e havia escassez de instrumentos para a pesca...” A carta de Gerard van Keulen, retratando a ocupação holandesa da ilha, refere-se a “cabras pelo morro”
1734 - Chegam os franceses com ordens reais de tomar posse da ilha e nela deixarem “cabras, bodes, touros, novilhos, galinhas e gatos para se multiplicarem”.
1736 - Este é o ano considerado “oficial” para a presença francesa na ilha. Estes ergueram moradias, armazéns, plantaram e criaram animais.
1737 a 1938 – período do Presídio Comum criava-se gado para corte e para o fabrico de charque. O charque produzido na ilha abastecia o presídio e os navios que passavam. No caso do gado bovino, criava-se também para usar os animais como meio de transporte, conduzindo alimentos, água e pessoas para todos os lugares da ilha.
Quando da instalação do Destacamento Misto da II Guerra Mundial – 1942/1945) o uso da carne foi extremamente comum entre os que o comandavam, quase todos vindos do R.G.do Sul, sendo célebres os churrascos que faziam em horas de lazer.
Duas vezes o Arquipélago foi usado para acolher Quarentenários Veterinários – 1952/53 e 1965/64 - Gado considerado de maior qualidade foi enviado para a ilha para cruzarem com os rebanhos já existentes, melhorando a espécie.

E isso chegou aos dias de hoje, com criações consolidadas, embora os problemas fossem (...e sejam ainda) muito grandes. Diante dos esforços para que a preservação seja mantida, propostas vão surgindo de erradicar da ilha toda e qualquer espécie de GADO, suprindo as necessidades dos habitantes locais com o envio de carne do continente, postura facilitada pelo ir e vir de aviões diários e de embarcações de carga constantes.

O problema permanece. É mais um, dentre os muitos enfrentados pelo único Arquipélago localizado tão distante do continente e que possui uma população residente, herdeira de uma história de cinco séculos.

OBS: as ilustrações aqui mostradas, ambas da 1ª metade do século XX, estão contidas no "Programa de Resgate Documental sobre Fernando de Noronha".